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A Imortalidade de David Bowie: a Jornada do Camaleão

Sobre a Jornada do Camaleão que Teve a Pretensão de Dialogar com a Própria Morte.


     A principal característica de um camaleão é a de não ser reconhecido de imediato, por isso, talvez, David Bowie não tenha ainda sido identificado plenamente com sua contribuição para a arte de forma geral. (1)
​

David Bowie O Homem que Caiu na Terra (1976)
The Man Who Fell to Earth (1976): o primeiro grande papel de Bowie
     Digo isso como uma espécie de mea-culpa tardia, com uma história pessoal, ocorrida pelo final dos anos 1990.

​     Em uma casa noturna de Curitiba, conversando com um interesse romântico da época, enveredávamos por uma ode repleta de referências musicais e cinematográficas que praticamente, resumiam a década anterior, os anos 1980.

     Mais especificamente, o fabuloso ano de 1982, que nos trouxe entre outras obras-primas, The Thing; The Wall; Rambo, The First Blood; Conan, The Barabarian; E.T.; Star Treck, The Wrath of Khan; Porky´s; 48 Hours; Poltergeist; Cat People; Blade Runner…

     A memória embalada pelo álcool, entretanto, fazia com que vários filmes mudassem de lugar, ou desaparecessem por completo, até que ela trouxe The Hunger à tona.


The Hunger (1983): uma das obras-primas com a participação de David Bowie


     Para uma pessoa que se considerava um rato de locadora, não conhecer um filme como esse era quase como uma falha de caráter, mas algo compreensível, já que o filme foi lançado sob a sombra de Return of The Jedi, em maio de 1983.

     Seja como for, aquela não era a única referência de David Bowie que eu havia perdido, principalmente, por não ligar o artista ao papel, como em seu outro grande filme daquele mesmo ano.

Merry Cristhmas Mr. Lawrence (1983): a prova de que David Bowie era, também, um grande ator


     Traduzido como "Furyo, Em Nome da Honra", para o mercado brasileiro, o filme teve um impacto pequeno, assim como The Hunger, em comparação a sua participação em Labirinto. (2)

     Em outras palavras, David Bowie está no cinema, como uma espécie de presença parcialmente oculta, em pontas, trilhas sonoras e outras contribuições, que nem sempre nos fazem lembrar dele imediatamente, como por exemplo:


The Martian (2015): uma homenagem ao início da carreira musical de Bowie

     Ou, em um uso mais implícito, misturado a própria trama de um filme:
​

The Secret Life of Walter Mitty (2013) e a quase onipresença do artista

     Isso para ficar apenas em duas pequenas amostras, ainda sem tocar a carreira propriamente musical de David Bowie, cujos exemplos são tão variados, que não há uma forma sucinta de lhe fazer justiça.

     Para começar, é preciso lembrar que Bowie é fruto de um meio artístico efervescente, a virada dos anos 1960 para os 1970 na Inglaterra, quando surgiu em meio a tantos outros grandes nomes, com canções como esta:


The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars (1972)

​     Mais do que isso, o cenário musical jamais foi capaz de conter a dispersão artística de David Bowie, algo perceptível pela facilidade com que transitava entre as funções de produtor, diretor, compositor, escritor e ator.

     Mas, apesar da obra prolífica, dos inúmeros hits e de toda a importância artística do britânico, sua característica mais marcante, talvez tenha sido a capacidade de tocar em temas inusitados, por vezes, tabus.

     Isso aconteceu mais recentemente, na sua jornada final, já diagnosticado com o câncer que terminaria por vitimá-lo em 2016.

     Pouco antes de falecer, David Bowie lançou seus últimos trabalhos, dentre os quais se destaca a música Lazarus, cuja letra e também, interpretação do próprio Bowie são extremamente significativas.
​

Lazarus (2016): conversando sobre a morte


     Ainda que o auge da carreira já houvesse passado, ele usava sua música, para interpretar a própria partida, como se fosse obra sua, não de uma doença ou do destino, mas como se artista de tantas décadas, tivesse o direito de escolher a hora de descer as cortinas do palco em que vivera, como grande astro, desde os anos 1970:

This way or no way
You know I´ll be free
Just like that bluebird
Now, that ain´t just like me?


     Por estas e outras, David Bowie sempre foi uma personalidade impossível de ser ignorada, porque também fazia pensar, porque também inspirava.

     Porque como muitos de sua geração, se dedicava a mais do que apenas ser um astro, queria também, ser o arauto de novos tempos, fosse pelo seu interesse na ficção científica, fosse pelo seu engajamento político.

     Em especial, pelo seu apego a causa tibetana, demonstrado artisticamente em 1997, quando lançou Earthling, contendo uma canção bastante significativa:


Seven Years in Tibet (1997): a empatia de Bowie com o sofrimento tibetano

     A música é contemporânea do filme Sete Anos no Tibet, mas compartilha com este apenas a inspiração original: o livro homônimo de Heinrich Harrer. (3)

     Desafortunadamente, como muitos outros artistas, por vezes, seu engajamento atraia desconfiança, como se David Bowie precisasse do Tibet para se promover.

     Ao contrário, exatamente como outros grandes nomes de nosso tempo, a verdade estava justamente no oposto; na doação pessoal, da persona pública, em suporte a uma das causas mais esquecidas da contemporaneidade.

     Tanto, que Bowie se preocupou em gravar aquela música com uma versão em mandarim, para ter certeza de que a mensagem seria entendida pelo alvo das suas críticas: a China.

     É claro que o efeito prático de ações como esta, é sempre discutível e é compreensível que uma parcela da população entenda como algo inócuo.

     Por outro lado, se todos somos apenas humanos, não podemos fazer nada além daquilo que está ao nosso alcance e portanto, a questão não é se as ações de Bowie eram efetivas para o Tibet, ou não.

     A questão é que, tendo uma ferramenta em mãos, ele não se omitiu em utilizá-la da forma que lhe era possível.

     Em resumo, se era isso que era possível, era isso que ele faria, o que é mais do que se pode dizer da maioria da humanidade.

     Mas, também é de se supor que o britânico não pretendesse ocupar o posto de santo das causas perdidas.
​     Ao contrário, como a canção Lazarus nos recorda, ele sabia bem que o que fazia com que fosse mortal, era também a sua fonte de imortalidade.

Era a humanidade de Bowie que o inspirava, mas também era ela que chamava o artista para o encerramento de sua jornada, como se já não houvesse mais o que pudesse fazer por aqui.


David Bowie Astronauta. Ele não morreu!

Na homenagem do sensacionalista, Bowie não morreu, apenas voltou para o seu planeta (4)


     Como se, de tanto brincar de ser camaleão, já tivesse gasto todas as suas possíveis versões e interpretações, algo que, embora esteja longe da realidade, não deixa de ser uma referência poética a sua incrível versatilidade.

     Seja como for, em todas as suas versões, havia algo de essencial; o vampiro sem tempo de The Hunger, é tão imortal quanto o ser que se despede da vida em Lazarus, ambos contendo algo daquilo que o artista tinha a contribuir para a história da humanidade.

     Neste sentido, criticá-lo por tentar ajudar ao Tibet, é mais ou menos como exigir dele que não apenas sua obra fosse imortal, mas que ele próprio transcendesse o mundo físico e se tornasse mais do que humano.

     Uma cobrança que seria injusta para qualquer um de nós, pois sendo heróis ou covardes, todos estamos limitados pelas mesmas amarras, apenas a arte nos dá a chance de transcender.

     Embora no fim, carregue apenas uma expressão do que foi a existência individual, não o ser humano em si.


David Bowie deitado, foto em preto e branco
David Bowie de chapéu foto close colorida
Capa de um dos discos (álbum) de 1983

Notas e Referências:
(1) Para uma visão mais abrangente da obra de Bowie, acessar:
https://www.davidbowie.com/about/
https://omlime.com/es/david-bowie_1153
(2) https://www.imdb.com/find?ref_=nv_sr_fn&q=labirinto&s=all
(3) Um pouco mais sobre a ligação de Bowie com o Tibet e a inspiração para Sete Anos no Tibet em:
https://elpais.com/cultura/2018/02/04/actualidad/1517771549_167930.html
(4) A respeito, ver:
http://www.sensacionalista.com.br/2016/01/11/david-bowie-e-flagrado-entrando-em-disco-voador-para-voltar-a-sua-terra-natal/
​

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