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Aviadoras: uma breve História Sobre Mulheres Sonhadoras

Talvez no futuro, seja tão fácil imaginar uma mulher no comando, quanto hoje é imaginar um homem.


     A história da aviação é relativamente curta, pouco mais de 100 anos se descontarmos dela, os balões de observação, que já eram utilizados desde meados do século XIX e para os quais, o primeiro uso prático massivo, foi a guerra.

Balão de Observação de 1862

Balão de Observação de 1862, durante a Guerra Civil Americana: antes de aprender a voar, a humanidade já imaginava os céus como um futuro campo de batalha

     É possível que esta “vocação” militar da aviação tenha tornado os céus, um espaço ainda mais masculino do que eram muitas das demais profissões, firmemente plantadas ao chão.
     Principalmente, porque de todas as divisões sexistas da sociedade, o direito de matar nossos semelhantes, sempre foi uma das maiores exclusividades masculinas.

     O que não significa, que as mulheres não fossem tão apaixonadas pela ideia de voar quanto os homens, tanto que as primeiras aviadoras, surgiram já no início, quando os aviões ainda eram apenas brinquedos exóticos e perigosos.

     Foi por esta paixão que Aida D´Acosta, uma jovem inglesa, convenceu Santos Dummont a deixá-la pilotar um de seus híbridos voadores (meio dirigível, meio avião) em 1903.
     Da mesma forma, os irmãos Wright, tinham em sua irmã Katharine, uma financiadora apaixonada, que voaria pela primeira vez em 1908. (1)

     Naqueles primeiros anos de puro romantismo, não haviam ainda aplicações comerciais para o avião e basicamente, quem pudesse construir um, podia igualmente pilotá-lo, mas, a situação mudou completamente a partir da Primeira Guerra Mundial.

     No intervalo compreendido entre 1914 e 1945, quando se encerra uma das fases mais sangrentas de nossa história, a aviação entrou em um período de evolução técnica acelerada pela necessidade de sobrevivência das nações.

     E neste contexto, seria de se esperar que houvessem mais oportunidades para que surgissem novas aviadoras, como de fato ocorreu, embora em termos quantitativos, fossem poucas quando comparadas ao contingente de homens.

     Além disso, sem exceções, quase sempre foram tratadas como uma espécie de segunda opção pelos comandos estratégicos beligerantes, independente do tamanho da catástrofe com que estivessem lidando.

     Justiça seja feita entretanto, a União Soviética, que em seu furor contra a invasão alemã, procurou conceder as mulheres e homens o mesmo direito de morrer nas frentes de batalha, embora mais por desespero que por qualquer sentimento de igualdade entre gêneros.

     Mesmo assim, é daquela região que temos um dos primeiros exemplos de aviadoras militares, utilizadas de forma consistente e eficaz, dentro de um plano tático e operacional que merece uma breve explicação.
​

Maryia Dolina, aviadora soviética

Maryia Dolina: uma das muitas aviadoras soviéticas condecoradas durante a Segunda Guerra Mundial


     Apesar de todos os indícios e avisos de que estava prestes a ocorrer, a invasão alemã pegou os soviéticos despreparados e uma das primeiras percepções de Stalin, foi a de que a melhor arma disponível em seu país, eram os números.

     Assim, o líder soviético lançou contra as bem treinadas e equipadas tropas alemãs, ondas incessantes de jovens russos, ucranianos e outros, inicialmente, apostando unicamente na quantidade.

     Nos céus não foi diferente e já em 1941, Stalin permitiu que mulheres se tornassem aviadoras, atuando em linhas de suprimentos, ou na aviação de caça e bombardeio e nesta última função, elas se destacaram em um grupo apelidado como Night Witches. (2)

Curta animado sobre a história de Nadia Popov, uma das “bruxas da noite”


     Ocorre que naqueles momentos de desespero, a força aérea soviética ainda não dispunha da mesma quantidade de aviões, que de homens e mulheres e por isso, reservou seus aviões mais modernos aos primeiros.

     Para as Night Witches, sobraram uns poucos Polikarpov Po-2, biplanos obsoletos da primeira guerra que, justamente por serem antigos, tinham uma grande vantagem e também, uma grande desvantagem.


Polikarpov Po-2: lentos e vulneráveis, mas, efetivos


​     Comparados aos aviões de caça e escolta alemães, os Polikarpov eram muito lentos e as  aviadoras soviéticas aprenderam rapidamente que, ao contrário do que se poderia imaginar, isto era uma vantagem.

     Os caças alemães não podiam desacelerar o suficiente para atingir e derrubar estas relíquias, desde que voassem baixo e portanto, este foi o padrão de voo das Night Witches, porém, havia um preço.

     A mesma velocidade baixa que as protegia dos caças, tornava as aviadoras militares extremamente vulneráveis contra baterias antiaéreas e também, contra simples soldados atirando para os céus.

     Daí o hábito de realizar as missões apenas a noite, além de desligar os motores antes de chegar ao destino, para dificultar a detecção pelos inimigos o que, do ponto de vista alemão, significava mulheres voadoras que surgiam do nada, justificando o apelido.

     Seja como for, esta história não é tão única quanto pode parecer. Como dissemos, devido as imensas necessidades envolvidas no esforço de guerra, várias nações tiveram suas  aviadoras militares e apresentamos o caso soviético como um exemplo, dentre vários possíveis. (3)

     Por outro lado, assim como ocorreu em outros campos profissionais, após a Segunda Guerra, com o retorno de muitos homens à vida civil, a pequena janela de oportunidades, aberta pelo conflito, se tornou ainda menor para as aviadoras.

     É claro que existem muitos exemplos de mulheres arrojadas que conquistaram seu espaço nas décadas seguintes a guerra, mas, apesar de não podermos contar a história de todas em um artigo curto como este, poderíamos colocá-las em uma lista. (4)

     E o simples fato de podermos saber superficialmente quantas foram, já é um bom indício de que os céus estavam reservados aos homens e de lá para cá, a situação mudou menos do que gostaríamos de admitir.

Cerimônia com as primeiras cadetes da Força Aérea Brasileira

Cerimônia com as primeiras cadetes da Força Aérea Brasileira, aceitas apenas a partir de 2002, nossas primeiras aviadoras militares se formaram em 2006


     Embora os números variem de país para país, em uma terra mentalmente atrasada como a nossa, um levantamento recente, apontou que no universo brasileiro, as aviadoras compõe menos de 2% do total de pilotos comerciais. (5)

     Entre as aviadoras militares a proporção é ainda menor, com a AFA (Academia da Força Aérea) passando a aceitar mulheres apenas a partir de 2002 e mesmo em países como Israel e Estados Unidos, os números não são muito melhores.

     De fato, como alguns estudos apontam, o problema é mais profundo do que a mera discriminação, conduzida por homens em um mundo dominado por eles, pois estamos tratando de uma forma de pensar que está enraizada nas diversas sociedades. (6)

     É um construto social de séculos, que faz com que as próprias mulheres achem difícil ou perigoso se aventurar em busca de seus sonhos, como a maioria dos homens faria, seja para se tornarem aviadoras, ou qualquer outra profissão tida como masculina.

     Em outras palavras, o principal obstáculo não é fruto de nenhum aspecto biológico como os mais apressados poderiam sugerir, com a maternidade sempre no topo da lista; mas, da introjeção das expectativas da sociedade, sobre o que seriam os papéis adequados a mulher.

     Desta forma, a partir de um mesmo sonho de voar, um homem e uma mulher veem, naturalmente, uma grande quantidade de desafios, afinal, para qualquer pessoa, se tornar piloto não é fácil, mas, para mulheres, há uma carga social maior.

     Sonhar em entrar para o seleto grupo de aviadoras e tanto pior se for o grupo de aviadoras militares, significa enfrentar, além dos obstáculos impostos a qualquer pessoa; as desconfianças de amigos, familiares e da própria sociedade.

     Para piorar, se vencerem estas barreiras, ainda terão de saber suportar um ambiente majoritariamente masculino, que pode lhes ser extremamente hostil, o que exige uma coragem e dedicação maior do que se poderia esperar de um ser humano.


Avião a jato voando em noite de lua cheia

     Por outro lado, para encerrar com um toque de otimismo, não há dúvida de que, apesar da transformação social ser, usualmente, um processo muito lento, sobretudo nas nações desenvolvidas, parecemos estar a beira de um mundo menos carregado de preconceitos.

     Ao menos, é o que algumas pesquisas demonstram, ao questionar as próprias mulheres contemporâneas, sobre a maneira como enxergam o mundo e as oportunidades que este lhes oferece. (7)

     Sendo assim, é de se imaginar que, em futuro não muito distante, possamos deixar de nos preocupar com a proporção de aviadoras, desvinculando as questões de gênero do mundo do trabalho, dos sonhos e das realizações pessoais.

     Afinal, por mais libertador que seja observar aviadoras militares triunfando em um dos ambientes mais masculinos da sociedade, seria ainda mais libertador se pudéssemos manter nossa admiração focada no fantástico sonho de pilotar aviões, independentemente do gênero de quem o conquiste.

Notas e Referências:
(1) Tomamos o cuidado de não afirmar quem foi a primeira mulher a voar, pois, assim como há disputas envolvendo a invenção do avião, é praticamente impossível saber, entre tantos clubes de aviação, quem foi a responsável pela façanha. A versão mais comum empurra o feito alguns anos para a frente: http://blog.voeazul.com.br/curiosidades/infografico-primeiras-mulheres-a-pilotar-aviao/ sendo que uma visão mais ampla do assunto, pode ser encontrada aqui: http://mashable.com/2015/03/04/women-aviators/#dGEDF5Nt8gqK

(2) Os artigos mais confiáveis a respeito da presença feminina em combate durante a Segunda Guerra Mundial, é de universidades estrangeiras, com acesso restrito, mas, neste link há uma prévia de um trabalho bastante completo sobre o caso soviético: https://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&lr=&id=VqIXDAAAQBAJ&oi=fnd&pg=PA1&dq=soviet+night+witches&ots=AxQ42Hh89d&sig=oI0jBaTjSoRSJLrz6_j3mi2oWxQ#v=onepage&q=soviet%20night%20witches&f=false


(3) Embora o desespero e a necessidade sejam uma justificativa plausível dentro de uma análise posterior como a nossa, no contexto da época, é possível imaginar que mais mulheres teriam sido aceitas como piloto caso houvessem mais aviões disponíveis e mais mulheres interessadas. Além disso, diferenças culturais tornavam cada nação em um caso único, de forma que, enquanto a Alemanha teve poucas aviadoras militares, a Inglaterra ocupou tantas quanto pode, como pode ser visto aqui: http://www.dailymail.co.uk/femail/article-3194754/The-female-Guns-World-War-II-Inside-RAF-s-woman-ferry-squadron-rubbed-shoulders-men-flew-Spitfires.html

(4) No caso brasileiro, conta-se nos dedos as aviadoras registradas nas primeiras décadas do pós guerra, sendo Ada Rogato, a principal expoente entre as mulheres que se aventuraram pelos céus do período: http://www.engbrasil.eng.br/revista/v112009/historia/har.pdf

(5) De acordo com: http://oglobo.globo.com/economia/brasil-tem-apenas-197-mulheres-entre-os-13928-pilotos-de-aviao-18856346#ixzz4fbjSQGoe

(6) Os estudos de gênero tem apontado esta profundidade do problema já há alguns anos. A respeito, ver: http://www.fg2013.wwc2017.eventos.dype.com.br/resources/anais/20/1382030742_ARQUIVO_ASMULHERESNAAVIACAOBRASILEIRA.pdf

(7) Um bom exemplo é este levantamento feito com algumas das primeiras mulheres a se formarem na Academia da Força Aérea Brasileira: http://www.scielo.br/pdf/epsic/v15n3/a05v15n3
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