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Diana, Princesa de Gales: Lady Di, a princesa do povo

As Perguntas Não Respondidas e o Canibalismo Moderno

Infanta Cristina, Carlos príncipe de Gales, Lady Di princesa de Gales, Vicente Antonio Rodríguez Redondo, Rainha Sofia.

Diana: mesmo no início, ainda vivendo a sombra de Charles, as câmeras já estavam ávidas por sua imagem


     Diana, princesa de Gales, atraiu a atenção e curiosidade das pessoas durante praticamente duas décadas, desde o final dos anos 1970, quando seu romance com o príncipe herdeiro do trono inglês começou, até o final dos anos 1990, quando faleceu em um acidente de carro.

     Ao longo de todo este período, ninguém mais foi tão perseguido pela imprensa quanto Lady Di e de certa forma, durante muito tempo, esta relação não pareceu doentia, mesmo porque, uma vez que ela percebeu que podia utilizar sua imagem em prol de uma causa, também aproveitou a exposição.

     Portanto, mais do que uma análise tardia dos exageros da imprensa, ou mesmo de sua possível responsabilidade na morte da princesa, a pretensão deste texto é a de pensar os motivos subjacentes para a persistência dos ditos jornalistas em obter qualquer detalhe sobre todos os seus movimentos.

     Neste sentido, as principais perguntas a serem respondidas são um tanto abstratas, como: o que significa ser um membro da realeza?
     O que faz com que um punhado de seres humanos sejam vistos por populações inteiras, como detentores de um direito natural e talvez divino, de governar?

     A história de Lady Di tem muito a nos ensinar sobre estas e outras questões, para além de todas as teorias conspiratórias envolvendo sua vida e morte, mas, há algo de elemental em sua trajetória que só podemos explicar recorrendo as origens do sentimento que atrela um povo a uma dinastia.

     Mais especificamente, retornando rapidamente a duas histórias ilustrativas da ligação profunda e antiga, estabelecida entre povo e realeza.
​     Primeiro, ao breve reinado de Luís XVI, único rei executado na história francesa.

Execução de Louis XVI Carnavalet

Ilustração da época da execução de Luis XVI: o povo foi suprimido da imagem


​     No contexto da Revolução Francesa, de destruição dos símbolos da monarquia, a decapitação de um rei, aparentemente, fazia sentido, mas, mesmo assim, o mais surpreendente na sua história, é que uma multidão compareceu a sua execução, em 1792.

     Não para aplaudi-la, mas, para se despedir do rei, sendo que muitas daquelas pessoas carregavam lenços, com o objetivo de embebê-los no sangue derramado do monarca, como uma lembrança de sua existência, bem como, pela sua relação com o divino e o sobrenatural. (1)

     Mesmo consumido pela revolta popular, os significados da figura real iam além de sua existência física.
​     Da mesma forma, há um outro exemplo, que seguiu caminho totalmente diferente, embora também tratado como lenda e envolto em mistérios.

     Trata-se de Joana d´Arc, que possui uma trajetória mais parecida com a de Lady Di, senão pelos aspectos folclóricos e divinos, pela origem mais “popular”, além do fato de também ter sido “consumida” por seus próprios conterrâneos.

     Ao contrário do que se imagina hoje, Joana foi apagada da história por séculos a fio, tendo sua memória resgatada apenas no século XIX, dentro do contexto dos nacionalismos europeus, tendo sido redimida e depois, já no século XX, canonizada pela Igreja Católica. (2)

Estátua de Joana d´Arc

Estátua de Joana d´Arc: de herege queimada viva ao final da Guerra dos Cem Anos, transformou-se em símbolo nacional na Primeira Guerra Mundial e santa católica nos dias atuais


     De qualquer forma, há um traço comum entre estes três personagens históricos, já mais ou menos exposto, que é a tendência ao final trágico, anunciado desde o início de seus percalços em meio a nobreza e/ou contextos históricos turbulentos.

     Luis XVI não era propriamente um rei pior do que seus antecessores para o povo francês, apenas teve o “azar” de ser entronado em um momento de esgotamento do modelo monárquico.

     Joana não tinha sangue nobre, mas se impôs em um mundo dominado pelos homens: a Guerra.
     Uma vez que sua utilidade se perdeu, aqueles mesmos homens trataram de queimá-la viva.

     Lady Di, por sua vez, não foi executada diretamente por seus pares, mas, consumida por uma forma de canibalismo moderno, representada pela imprensa inglesa, agindo em nome de um suposto direito a informação. (3)

     Em outras palavras, Diana, princesa de Gales, carregava consigo o peso de uma tradição que equipara meros mortais a seres mitológicos, ungidos pela graça divina, enquanto herdeira do trono, ao lado de Charles.

     Por outro lado, Lady Di, filha de aristocratas, não vinha exatamente do seio popular, mas, de uma classe intermediária, de nobres de segundo e terceiro escalão, o que a colocava em algum lugar entre Luis XVI e Joana d´Arc.

     Mas, no fim, Diana Frances Spencer, era uma mulher simples, pouco afeita aos salamaleques da corte inglesa e uma vez separada do príncipe Charles, seria de se esperar que tivesse direito a uma vida privada, resguardada dos holofotes.

     Sua tragédia pessoal, entretanto, residia no fato de se esforçar por utilizar a imagem pública a favor de campanhas humanitárias, como a desativação de minas terrestres espalhadas por territórios africanos, afetados por décadas de conflitos sangrentos.

Lady Di em encontro com Hilary Clinton em 1977.

Encontro com Hilary Clinton em 1997, poucos meses antes da morte: mesmo não sendo mais princesa, Diana não abandonou sua cruzada humanitária


     Ao viver esta dualidade, de tentar manter a vida privada separada da persona pública das causas humanitárias, todas as suas facetas se uniam em Lady Di, a princesa do povo, tornando impossível que vivesse como mera mortal.

     Basicamente, porque, como alguns exemplos históricos demonstram, ainda que cada trajetória seja única, ser um membro da nobreza significa pertencer a uma classe distinta de seres humanos, de quem se espera mais do que seria razoável esperar.

     Luís XVI, por melhor governante que fosse, não tinha os meios necessários para transformar a monarquia a ponto de evitar a Revolução Francesa, embasada em séculos de opressão popular.

     Joana d´Arc, por melhor líder que fosse, nunca pode contar com o apoio sincero que os nobres de sua época destinariam a qualquer homem que ocupasse seu lugar.

     E mais uma vez, da mesma forma, Lady Di, princesa ou não, era apenas um ser humano como qualquer outro, com todas as dúvidas e anseios que assolam a todos nós.
     A diferença, residia neste estranho acaso que a colocou no radar do príncipe herdeiro.

     Assim, uma menina de 19 anos foi jogada ao centro de um palco, com o qual ela tentaria lidar pelo resto de sua vida.
     Mesmo depois, mais perto de sua morte, com mais de 30 anos, Lady Di ainda carregava muitas traços da menina que crescera na década de 1970.


Diana, in Her Own Words: depoimentos contundentes sobre as frustrações de seu casamento e anseios de vida


     No fundo, após deixar de ser a futura rainha, queria sua vida antiga.
     Queria se livrar dos estigmas adquiridos durante um casamento que, para ela, havia sido frustrante, a exceção dos filhos, a quem amava profundamente.

     Mas, uma vez alçada a categoria de realeza, tanto imprensa quanto população não podiam mais distinguir as três personas e desta forma, Diana, princesa de Gales, ou Diana Frances Spencer, foram ambas engolidas pela figura transcendente de Lady Di.

     Passados pouco mais de 20 anos de sua morte, é esta a persona que sobrevive na esfera pública, por mais que textos como este, ou mesmo documentários mais recentes, procurem mostrá-la como um ser humano, a lenda da princesa do povo é grande demais para ser humanizada.

Notas:
(1) Durante muito tempo esta história foi considerada uma lenda, porém, mais recentemente, os relatos populares encontraram respaldo científico, como pode ser visto neste artigo: http://www.bbc.com/news/world-europe-20882305
(2) Mais interessante do que a história em si de Joana d´Arc, é a relação que se estabelece com seu exemplo, entre liderança, anseios populares e em última análise, dependência mútua mito/povo. Este aspecto é muito bem explorado neste texto de Deepak Chopra: http://etecagricoladeiguape.com.br/projetousp/Biblioteca/alma%20de%20liderança.pdf

(3) O suposto “direito a informação” motivou uma audiência pública com os principais editores de tablóides ingleses após a morte de Diana e também, constitui a essência da perseguição ao carro em que estava, na noite do acidente, dando origem as muitas teorias da conspiração envolvendo sua morte, como pode ser visto neste documentário:
https://www.youtube.com/watch?v=oYh5TXLoT6Q
Referências:
Outras fontes interessantes a respeito de Lady Di:
https://www.royal.uk/diana-princess-wales
https://www.nytimes.com/2017/07/23/arts/television/another-look-at-princess-diana-with-a-notable-difference.html
http://www.telegraph.co.uk/news/2017/07/24/princess-diana-tapes-controversial-recordings-made-voice-coach/
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