Força Aérea dos Estados Unidos: poderio e tecnologia
Do poderio convencional à tecnologia futurista: uma máquina de sonhos.
Apesar de criada oficialmente após a Segunda Guerra, foi nos céus da Europa que a força aérea americana se formou
A força aérea dos Estados Unidos e a aviação militar de forma geral, exerce um fascínio quase natural sobre a maioria dos seres humanos.
Há vários motivos para que assim seja, mas, neste artigo, vamos nos concentrar em três: aventura; ficção e nobreza.
Três termos que, traduzidos para o jargão militar, seriam correspondentes as áreas de aviação de caça; desenvolvimento tecnológico e honra militar.
Este último, aliás, está em extinção e nos servirá apenas, como mote inicial, para situar a origem do fascínio.
Isso porque, desde os primórdios, mesmo na guerra, a humanidade sempre se dividiu em classes, destinando certas funções militares, como a infantaria, para a população em geral e outras, como a cavalaria, para os membros da nobreza.
Esta divisão genérica se perpetuou até a eclosão da Primeira Guerra Mundial, quando pela primeira vez, a aviação se tornou parte regular da máquina de guerra, enquanto a cavalaria perdia definitivamente sua importância tática e estratégica, restando-lhe apenas tarefas operacionais.(1)
Naquele contexto, entretanto, os beligerantes ainda estavam descobrindo as melhores formas de aplicação militar para os aviões e boa parte do papel dos primeiros pilotos, ainda estava envolto em uma aura de puro romantismo.
Réplica de um Fokker similar ao modelo pilotado pelo Barão Vermelho, durante a Primeira Guerra: um ícone mundial
Por este motivo, possivelmente, o mais famoso de todos os pilotos de caça da história, seja também daquele período: Manfred Von Richthofen ou, como é mais lembrado, o Barão Vermelho.
Sua morte, em combate, é a epítome do início da aviação militar.
Abatido em território francês, foi enterrado com honras militares por seus próprios inimigos, numa das mais contundentes amostras de cavalheirismo entre oponentes, nos tempos modernos.
Tanto, que seu funeral é um dos poucos eventos do período registrado em filme.(2)
Seja como for, esta digressão inicial, como dissemos, serve a um propósito específico: ressaltar a aura de heroísmo, cavalheirismo, nobreza e honra envolvida nos combates aéreos daqueles primeiros momentos.
O suficiente, para sedimentar uma admiração popular por aqueles pilotos.
Um sentimento que sobreviveu ao tempo, embora o romantismo tenha se perdido após a Segunda Guerra Mundial, quando o cenário de oposição aberta, foi substituído pela competição tecnológica entre a força aérea dos Estados Unidos e da extinta União Soviética.
Além disso, ainda durante a Segunda Guerra, as funções militares da aviação se tornaram mais claras e o papel central dos pilotos de caça diminuiu consideravelmente, na medida em que seu emprego massivo era necessário apenas nas fases preliminares, na definição da superioridade aérea.
Nas fases finais da guerra, com seus oponentes praticamente inoperantes, o foco da força aérea americana se deslocou para os grandes bombardeiros B-17 Flying Fortress e também, para as missões de reconhecimento e espionagem, bem como de ataque ao solo, por caças-bombardeiros.(3)
Por este motivo, possivelmente, o mais famoso de todos os pilotos de caça da história, seja também daquele período: Manfred Von Richthofen ou, como é mais lembrado, o Barão Vermelho.
Sua morte, em combate, é a epítome do início da aviação militar.
Abatido em território francês, foi enterrado com honras militares por seus próprios inimigos, numa das mais contundentes amostras de cavalheirismo entre oponentes, nos tempos modernos.
Tanto, que seu funeral é um dos poucos eventos do período registrado em filme.(2)
Seja como for, esta digressão inicial, como dissemos, serve a um propósito específico: ressaltar a aura de heroísmo, cavalheirismo, nobreza e honra envolvida nos combates aéreos daqueles primeiros momentos.
O suficiente, para sedimentar uma admiração popular por aqueles pilotos.
Um sentimento que sobreviveu ao tempo, embora o romantismo tenha se perdido após a Segunda Guerra Mundial, quando o cenário de oposição aberta, foi substituído pela competição tecnológica entre a força aérea dos Estados Unidos e da extinta União Soviética.
Além disso, ainda durante a Segunda Guerra, as funções militares da aviação se tornaram mais claras e o papel central dos pilotos de caça diminuiu consideravelmente, na medida em que seu emprego massivo era necessário apenas nas fases preliminares, na definição da superioridade aérea.
Nas fases finais da guerra, com seus oponentes praticamente inoperantes, o foco da força aérea americana se deslocou para os grandes bombardeiros B-17 Flying Fortress e também, para as missões de reconhecimento e espionagem, bem como de ataque ao solo, por caças-bombardeiros.(3)
Um dos primeiros ícones americanos: o B-17, voando em companhia de um moderno B-52
É daquela separação por funções que se estabelece uma divisão classificatória inicial por tipos, que hoje se representam por caças (Fighters), ataque ao solo (Attack), bombardeiros (Bombers), transporte (Carriers), treinamento (Trainning) e não tripulados (Unmanned).
Para o caminho que escolhemos seguir, as categorias F, A e B são as principais e podemos dizer que, devido aos avanços tecnológicos, a habilidade dos pilotos, embora necessária, é cada vez menos determinante no sucesso das missões.
Os sistemas de geolocalização e guia automática de mísseis por GPS, além dos avanços eletrônicos na área da aviônica, transformaram os aviões modernos em máquinas “dóceis”, relativamente mais fáceis de pilotar que qualquer outra das gerações anteriores.
A composição atual da força aérea dos Estados Unidos tem uma espinha dorsal, baseada em cerca de 400 caças F-15 e outros 800 F-16. Os primeiros, são produzidos por uma divisão específica da Boeing, tendo entrado em serviço ao longo dos anos 1970 e 1980.(4)
McDonnell Douglas F-15 Eagle: literalmente imbatível
Seu histórico é impecável, segundo a própria fabricante, em combates aéreos: 101 vitórias, nenhuma derrota.
Independentemente da qualidade dos pilotos, estes números deixam clara a qualidade técnica da aeronave em sua principal tarefa: superioridade aérea no plano tático.(5)
Já os F-16, são produzidos pela Lockheed Martin. Embora cumpram basicamente as mesmas funções que os F-15, são menores, mais leves e baratos e portanto, empregados em maior escala pelo mundo.
Seu histórico operacional não é perfeito como o dos F-15, mas, ainda muito favorável.
F-16 Fighting Falcon ou, para os pilotos: “viper”
Ainda há os F-18, mas, estes são empregados exclusivamente pela marinha e pelos fuzileiros.
Todos eles são caças multirole de quarta geração, em processo de substituição pelos F-35, de quinta geração, cuja principal diferença, além do custo elevado, é a capacidade stealth.(6)
A história do desenvolvimento deste novo caça da Lockheed Martin, é um exemplo perfeito da superioridade tecnológica americana e ao mesmo tempo, do papel que a política desempenha nas escolhas militares, para o bem e para o mal.
Em princípio, o governo americano pretendia substituir os F-15, tendo escolhido para tanto, o projeto do F-22, também da Lockheed Martin, porém, o custo total de desenvolvimento foi considerado muito alto para cumprir apenas as funções de um tipo de caça.
F-22 Raptor: expectativas altas e frustradas
Após adquirir pouco menos de 200 unidades, o governo americano encerrou os contratos, em favor do F-35, cuja pretensão era ser mais barato e também, substituir todos os três principais caças da força aérea dos Estados Unidos, da marinha e dos fuzileiros.
O problema é que, por ter que reunir as características de três aviões diferentes, incluindo versões com decolagem vertical, o projeto foi se tornando o mais caro da história, estimado atualmente, em mais de 400 bilhões de dólares.
Além disso, assim como o F-22, ainda não foi testado suficientemente o que gera muitas dúvidas com relação a sua efetividade em combate, quando comparado aos caças atuais que, para todos os efeitos, ainda cumprem a contento, com folgas, as funções para as quais são designados.
Seja como for, força aérea americana e várias outras de países aliados da OTAN, não parecem dispostas a rever possíveis erros principalmente, porque uma vez atingido um valor tão alto no desenvolvimento, não há disposição política para qualquer discussão a respeito.
F-35: ainda mais caro que o F-22
Sendo assim, já há cerca de 50 F-35 operacionais e outros 50 encomendados pela força aérea dos Estados Unidos, com o total podendo chegar a mais de 1600 aeronaves. Além de outros 600 para utilização pelas forças navais do país.
Esta sanha política pela utilização do F-35 como uma espécie de faz tudo dos ares, também está colocando em risco um outro tipo de avião: o A-10 Thunderbolt, um dos mais bem sucedidos projetos para ataque ao solo da história da aviação mundial.(7)
A-10 Thunderbolt: letal em missões de ataque ao solo
Os militares parecem bem menos dispostos a abandonar o A-10 do que os políticos americanos, seduzidos pela aura de tecnologia quase alienígena do F-35.
A verdade, é que há argumentos históricos muito convincentes para a existência de aviões diferentes, para funções diferentes.
Apostar unicamente em um projeto, ainda não testado, parece ser uma decisão pouco fundamentada, apoiada apenas pela crença no aparato tecnológico mais moderno do F-35 e também, por uma espécie de inércia política em função dos elevados gastos de seu desenvolvimento.
Em vários sentidos, a história do F-35 é uma reedição dos problemas enfrentados durante o desenvolvimento de outro avião icônico: o bombardeiro estratégico B-2, também Stealth, para substituir os antigos, porém, muito efetivos B-52 e os mais recentes B-1.
Quando entraram em operação pela força aérea dos Estados Unidos, na passagem dos anos 1980 para os 1990, a Guerra Fria, principal motivo para a existência do projeto, estava acabando e apenas 21 deles foram efetivamente construídos.
B-2 Spirit: lindo, funcional, caro e pouco utilizado
Em resumo, embora não estejamos renegando a importância do desenvolvimento tecnológico, nos casos específicos do F-35 e do B-2, há uma grande possibilidade de que se mostrem pouco efetivos, principalmente quando analisamos a relação entre custo e benefício.
O B-2, por exemplo, é um avião de 2 bilhões de dólares, projetado para voar incógnito, em altitudes elevadíssimas.
Pensado para invadir o espaço aéreo soviético sem ser detectado, destruir alvos estratégicos e retornar a base em segurança.
Esta necessidade era muito específica, em função do fato de que a antiga União Soviética possuía uma força aérea capaz de fazer frente a força aérea americana e desta forma, os B-52 não eram suficientes.
No mundo atual, entretanto, além de suficientes eles são, também, mais baratos.(8)
O que não significa que os B-2 não sejam necessários em pequenas quantidades, mas, que o seu exemplo deveria servir de base para o projeto do F-35, excelente sob quase qualquer ponto de vista, menos, do único que importa.
Porque um avião pode ser excelente para uma função, ou medíocre para várias.
O F-35 parece já ter escolhido a sua posição nestes extremos, mas, há outros dois aspectos sobre a aviação militar que precisamos considerar.
Primeiro, há uma certa injustiça em criticar um avião antes que ele possa ser testado em combate e principalmente, comparado com os atuais caças da força aérea dos Estados Unidos, além disso, mesmo o F-15 e o F-16, tiveram problemas nos primeiros anos de operação.
Por isso, ao longo de 40 anos de fabricação, ambos os projetos já foram revistos e atualizados inúmeras vezes.
Algo que tende a acontecer com o F-35, conforme for sendo testado.
Isso, para não citar o fato de que o volume das encomendas, tende a baratear a aeronave no final das contas.
Em segundo lugar, o F-35, assim como o B-2, serve para alimentar o fascínio pela aviação militar.
De certa forma, estes projetos ajudam a criar um sentimento de superioridade tecnológica da força aérea americana em relação as demais.
O que se converte em apoio popular à iniciativa, ainda que se trate de um gasto desproporcional em termos das necessidades atuais.
Sem contar, o último aspecto do nosso tripé inicial: a aventura, tão bem representada pela indústria cultural americana.
F-14 Tomcat: ícone hollywoodiano de uma geração
Sendo o melhor exemplo, o blockbuster Top Gun, que ajudou a imortalizar o F-14 – antecessor dos F-18 – ampliando a procura pelo alistamento na aviação militar naval naquela época. Neste sentido, o F-35 é ainda muito recente.(9)
Porém, considerando que o B-2 já teve um filme para si, talvez seja apenas uma questão de tempo até que o F-35 ou outro caça futuro da força aérea dos Estados Unidos, atinja o mesmo peso simbólico e cultural que alguns dos modelos de quarta geração alcançaram.(10)
NOTAS
(1) O emprego massivo dos sistemas de trincheiras, nichos de metralhadoras e campos minados, tornou a cavalaria inútil no front ocidental, embora no front russo e outros menos conhecidos, as cargas de cavalarias ainda tenham sido empregadas com alguma frequência.
(2) O que restou da filmagem está aqui: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Richthofen_funeral.ogv
(3) O dogfighting foi crucial até 1942, aproximadamente, após isso, a força aérea alemã perdeu grande parte de sua capacidade operacional ao ser desgastada na invasão da União Soviética. Daí por diante, em grande parte da Europa, os americanos e aliados enfrentavam pouca oposição nos céus.
(4) Os números e informações técnicas gerais foram retirados deste relatório de 2015: https://d1fmezig7cekam.cloudfront.net/VPP/Global/Flight/Airline%20Business/AB%20home/Edit/WorldAirForces2015.pdf
(5) É difícil acreditar que nenhum F15 tenha perdido um combate aéreo ao longo da história, mas, a fonte é própria Boing: http://www.boeing.com/history/products/f-15-eagle.page
(6) A tecnologia stealth está em desenvolvimento desde os anos 1970 e o primeiro caça a empregá-la, foi o F-117, mais sobre o assunto em: http://www.nationalmuseum.af.mil/Visit/Museum-Exhibits/Fact-Sheets/Display/Article/198056/lockheed-f-117a-nighthawk/
(7) As discussões se arrastam desde o início do projeto do F-35 e há muitas fontes disponíveis. Alguns exemplos:
https://www.dodbuzz.com/2015/09/15/general-blasts-a-10-vs-f-35-debate-as-ludicrous/
https://www.redstate.com/diary/f35jsf/2012/05/18/house-votes-against-democrats-bid-to-kill-f-35b/
https://www.usnews.com/opinion/economic-intelligence/2014/07/09/congress-should-ground-the-f-35-forever
(8) Tanto, que a Rússia, herdeira do arsenal soviético, é a única nação que representa uma ameaça real em termos tecnológicos ou numéricos para os americanos, embora a China tenha avançado muito nas últimas décadas. Novamente, os dados se baseiam neste relatório: https://d1fmezig7cekam.cloudfront.net/VPP/Global/Flight/Airline%20Business/AB%20home/Edit/WorldAirForces2015.pdf
(9) Este filme: http://www.imdb.com/title/tt0092099/
(10) Mesmo não tendo um impacto parecido com o de Top Gun, foi uma produção razoavelmente bem sucedida: http://www.imdb.com/title/tt0115759/?ref_=nm_flmg_act_43