Os Motivos Sobre Nossa Linha Editorial
Uma Discussão Filosófica Sobre os Motivos de Fazermos as Coisas da Forma Como Fazemos
Queremos falar sobre nossa linha editorial, mas isso não será fácil, porque não seguimos nenhuma linha à risca então, vamos começar falando sobre linhas…
Desde os primórdios da humanidade, existem duas linhas que dividem os seres humanos em três grupos bem característicos, embora as fronteiras também sejam habitadas.
Há muitos nomes para cada um destes grupos, mas podemos descrevê-los sem utilizar nomenclaturas, assim como não falaremos diretamente, sobre nossa linha editorial.
O mais numeroso destes grupos, é composto de pessoas que não sabem porque fazem as coisas, da forma que fazem.
Pessoas que simplesmente chegaram a este planeta, ouviram dos outros como as coisas devem ser e seguem vivendo desta forma.
Obedientes, seguem se alimentando daquela fonte gasta e insuficiente de informações, sem testar os limites do seu conhecimento.
Nas duas pontas deste grupo numeroso existem, como opostos interdependentes, os mestres do cabo de guerra que embala o caminhar da humanidade.
Podemos dizer que um destes extremos, é composto por pessoas que sabem muito; carregadas de certezas tão absolutas, quanto absurdas.
O outro extremo, é composto de pessoas que também sabem muito; mas tem plena consciência de que o que sabem, não é nada, perto do que há para saber.
Resumindo, pessoas que acham que tem todas as soluções de um lado; pessoas com sede de conhecimento do outro.
No meio de ambos, existe a massa, que pode ou não, se dar ao trabalho de escutar um ou outro lado, conforme estes são capazes de tocar suas almas.
Para todos os três, existe pelo menos uma linha editorial apropriada, assim como existem as que buscam cooptar suas almas.
De um ponto de vista filosófico, todos os grupos são tentadores se pensarmos com calma, principalmente, o do meio, afinal, neste grupo, tudo é responsabilidade dos outros.
Se alguém lhes diz que algo deve ser feito de uma determinada forma e não há outra opção, então, se houver outra opção, a culpa é de quem disse que não havia.
A vida é mais fácil neste grupo.
Não porque não seja necessário enfrentar os problemas do dia a dia, mas porque no fundo, a vida está sempre nas mãos de outros.
Porque se tudo der errado, sempre haverá outro mestre a seguir, para que se possa continuar sempre nas sombras, seguindo, seguindo e seguindo…
Até que a existência se encerre e ninguém saiba exatamente porque aquela pessoa esteve viva, porque não realizou nada, além daquilo que lhe disseram que deveria realizar.
Se nossa linha editorial fosse feita para este grupo, teríamos que nos transformar em gurus, sem termos jamais, escalado qualquer montanha do Himalaia…
Nos outros dois grupos, entretanto, a vida é muito mais difícil, embora por motivos completamente diferentes, em cada um deles.
Sendo assim, vamos imaginar como é pertencer ao grupo das certezas escritas em pedra, utilizando este nosso meio como exemplo.
Sim, este oceano digital que serve de berço para todas as ideias da humanidade, das mais estúpidas às mais brilhantes.
Neste meio, a turma das certezas não escreve para si, escreve para todos; porque almeja unificar a humanidade, sob o manto do seu conhecimento inquestionável.
Porque é incapaz de lidar com aquilo que contradiz suas ideias.
Abomina divergências e no fundo, deseja que toda a humanidade se convença logo das suas ideias.
É claro que isso jamais será admitido, apenas sentido e deve ser muito doído, para os habitantes desta faixa estreita de seres humanos; saber disso em seu íntimo.
Porque não importa quantos consigam arrebanhar para as hostes da certeza, jamais atingirão todos, nem mesmo entre a massa que apenas navega, procurando liderança.
Porque a certeza corrói a alma ante a falta de provas definitivas.
Porque podem convencer aos outros, mas não sendo burros, não são capazes de enganar a si mesmos.
Para eles, a vida é frustrante, mesmo quando o sucesso lhes sorri, entregando um grande número de seguidores.
Não querem migalhas, querem tudo e todos e isto, sendo impossível, lhes deixa poucas opções para apaziguar a megalomania.
Deste extremo, cresceram os fascismos e outros tantos ismos, com os quais já fomos obrigados a conviver e eventualmente, superamos.
Porque é incapaz de lidar com aquilo que contradiz suas ideias.
Abomina divergências e no fundo, deseja que toda a humanidade se convença logo das suas ideias.
É claro que isso jamais será admitido, apenas sentido e deve ser muito doído, para os habitantes desta faixa estreita de seres humanos; saber disso em seu íntimo.
Porque não importa quantos consigam arrebanhar para as hostes da certeza, jamais atingirão todos, nem mesmo entre a massa que apenas navega, procurando liderança.
Porque a certeza corrói a alma ante a falta de provas definitivas.
Porque podem convencer aos outros, mas não sendo burros, não são capazes de enganar a si mesmos.
Para eles, a vida é frustrante, mesmo quando o sucesso lhes sorri, entregando um grande número de seguidores.
Não querem migalhas, querem tudo e todos e isto, sendo impossível, lhes deixa poucas opções para apaziguar a megalomania.
Deste extremo, cresceram os fascismos e outros tantos ismos, com os quais já fomos obrigados a conviver e eventualmente, superamos.
Apenas para, em uma nova onda futura (ou presente), nos entregarmos a outros ismos, até que possamos nos libertar novamente.
É um jogo que jogamos as cegas, contra o imenso oceano; muito mais forte do que nós, individualmente, ou em grupos. E aí também se esconde outro motivo da infelicidade da turma das certezas: é possível provocar uma onda no oceano, mas não se sabe onde ou como ela termina. |
Ancorar nossa linha editorial neste grupo, seria correr o risco de arcar com a consciência de talvez, iniciar uma destas ondas e cá entre nós, há coisas melhores a se fazer.
Uma lição que muitos deste grupo aprendem apenas no final da vida, já desiludidos, mas ainda culpando as massas, por serem incapazes de entender a altitude de suas ideias.
Ainda que suas ideias, no fundo, sejam muito rasas ou pior, sejam perigosas, justamente por pretenderem o posto da certeza irrefutável.
Mas a tristeza não é só deles.
Também existe na outra ponta e talvez lá, seja ainda maior, embora isso seja algo difícil de explicar.
Porque no último grupo, existe uma sede inesgotável, não por concordância, mas pelo próprio conhecimento e este, como sabemos, é infindável.
Um sentimento com o qual nossa linha editorial se identifica, mas ainda não se contenta, principalmente, por parecer faltar algo, talvez, de humano.
Afinal, não é possível imaginar uma vida humana, mesmo no futuro, onde talvez possamos viver algumas centenas de anos; que dê conta do conhecimento.
Porque não importa quanto se viva, se sequer sabemos o que ou quanto há para saber. Bem pensada, esta é uma consciência quase banal.
Um bom punhado de filósofos já sabia disso desde a antiguidade e hoje, muitos deste grupo também sabem. Mesmo assim, seguem tentando, porque não há alternativa.
E se fosse só isso, talvez a vida neste grupo não fosse tão triste.
Porém, este grupo não é uma ilha; também quer que seus irmãos compartilhem deste maravilhamento.
Desta sensação de infinitude que nos torna ao mesmo tempo, tão insignificantes e tão valiosos no universo.
A tragédia, é que não há como explicar isso, sem que o interlocutor tenha em si, um pequeno desejo de mergulhar no oceano, abandonando a segurança do barco.
Que abandone o conforto dos líderes carismáticos, assumindo a responsabilidade por sua vida e seus erros, bem como, que seja capaz de admitir sua ignorância.
Que como os habitantes desta estreita faixa de seres humanos, não se entregue a entidades fictícias e redentoras, mas a mais dura realidade.
A única verdade irrefutável: a de que estamos aqui e por aqui morreremos, faça isso sentido ou não, para nossas sensibilidades.
Porque é isto que o destino reserva a todos e a cada um de nós.
O que fazemos no meio do caminho, entretanto, é responsabilidade única e exclusiva, de cada um de nós.
E se você se pergunta onde diabos, nossa linha editorial e nós mesmos, nos colocamos nesta divisão, saiba que não nos importamos.
Porque como dissemos, as fronteiras também são habitadas e talvez, sejam o lugar ideal para posicionar algo que possamos chamar de linha editorial.
Porque muitas vezes, a ciência nos brinda com pequenas certezas, que não temos o direito de ignorar.
E assim, vocês jamais lerão uma única linha nossa, defendendo a tal terra plana e outras bobagens do mesmo quilate.
Porque muitas vezes, a espiritualidade nos brinda com momentos ternos e reconfortantes, que mesmo a mente mais racional é obrigada a considerar.
E assim, vocês jamais lerão uma única linha nossa, desdenhando da fé alheia, ainda que nos reservemos o direito de criticar ideias livremente.
Porque muitas vezes, sabemos tão pouco sobre algum assunto, que não há outra opção, a não ser seguir quem nos parece ser mais confiável.
E assim, vocês jamais lerão uma única linha nossa, usurpando ideias que não nos pertencem, ou que não respeitem a mente que nos inspirou.
Porque somos humanos e falíveis, por mais inteligentes que possamos ser; mas isso também não significa que não sabemos nada, nem que os outros não sabem nada.
O que diferencia nossa linha editorial, é saber ler e ouvir, além de nos preocuparmos sempre, em pesar a responsabilidade que temos, sobre aquilo que publicamos.
Ou seja, acreditamos que existe um equilíbrio, possível apenas nas fronteiras e bordas deste emaranhado confuso que tece a essência da humanidade.
Um equilíbrio que inclui a fusão de textos e imagens, para atingir corações e mentes, sem compromissos com lados e grupos, em uma linha editorial errante.
Errante, bem entendido, pelo imenso oceano digital, em busca do que houver para prender nossa atenção, como piratas do conhecimento.
Sem a segurança da liderança carismática; sem a pretensão de estarmos sempre certos, mas sem dúvida, com a sensação de maravilhamento diante do oceano.
Por isso nos arriscamos fora das fronteiras do que se diz ser certo, ou do que nos dizem que deveríamos fazer.
Porque somos tão contraditórios, quanto o melhor e o pior dos seres humanos; capazes das façanhas mais brilhantes e ao mesmo tempo, dos escorregões mais vergonhosos.
Por outro lado, se somos assim tão demasiado humanos, como diria Nietzsche; também não estamos dispostos a morrer, sem termos tentado; sem testar todos os limites.
E saber se conseguiremos ou não, é muito menos importante do que trilhar o caminho que escolhemos seguir, fiéis a este tênue esboço de linha editorial.
NOTA:
Este texto contém uma homenagem parcialmente oculta e muito singela a José Ingenieros, pensador e cientista ítalo-argentino, que viveu entre 1877 e 1925, autor de “O Homem Medíocre”.