Nelson Rodrigues
Antes e Depois do Teatro
Uma viagem pelo mundo louco e fascinante de um dos maiores escritores do nosso país.
Ao mesmo tempo em que era crítico também era criticado, e não era por menos, suas histórias despertam no público as reações e opiniões mais adversas.
Nelson Rodrigues, um dos mais influentes dramaturgos da história do Brasil, é conhecido por ser reacionário, revolucionário, louco, pervertido, racista e muitas características mais.E o principal motivo por trás disso é o fato dele atribuir características psicopatológicas aos seus personagens, a exemplo disso podemos citar obras como A Falecida, onde a obsessão de Zulmira por uma linda morte é um tanto quanto difícil de digerir por algumas pessoas. |
Ou ainda, a história Anjo Negro, onde temos o personagem Ismael amando ainda mais sua esposa por conta do seu racismo fora de série e depois de um trágico acontecimento.
Assim como também a sua peça Álbum de Família, que retratava uma verdadeira guerra que tinha o incesto como o tema principal e o mesmo girava entre os pais e seus respectivos filhos. Essa fora uma de suas obras mais polemicas, rendendo uma divisão de críticas, muitas delas vindas de jornalistas, escritores e críticos influentes da época. Como podemos notar aqui, nosso gênio, e fascinado pela subversão, tem interesse pleno por personagens que fogem dos padrões comuns e tem prazer em trabalhar debaixo de perspectivas que, para muitos, talvez sejam ilógicas. Por esse motivo, muitos também o consideram um verdadeiro gênio da dramaturgia brasileira. O fato é que, mesmo martirizado por muitos críticos, trilhando caminhos de sucesso, fracasso e ainda sendo censurado, Nelson Rodrigues exerceu e exerce grande influência no teatro dos dias atuais.
E mesmo recebendo adjetivos pejorativos, Nelson foi um escritor de suma importância para o teatro brasileiro, sendo ele o primeiro a trazer para os palcos histórias que tinham como cenário principal o subúrbio carioca. Assim como o Rio de Janeiro foi sua paixão e inspiração para o cenário de suas obras, essas obras também foram de grande importância para a vida dos cariocas, sendo que é praticamente impossível visualizar a cidade sem a influência de suas histórias. Eram raros os escritores como Nelson, que também trabalhará como jornalista (na maior parte de sua vida), cronista, fazendo folhetins, materiais policiais e mais. O filho do também jornalista Mário Rodrigues teve enorme influência no jornalismo brasileiro também. O que é mais infeliz é que, mesmo com sua desenvoltura e sendo aberto as oportunidades que lhe sobrevinham, Nelson Rodrigues vivia como parte dos brasileiros vivem: com pouco ou nenhum centavo no bolso, por mais inacreditável que seja. E mesmo com a tuberculose andando lado a lado com ele, Jornalista por muitos anos, Nelson despertou uma paixão quase que aturdida pela dramaturgia, consumindo maços e mais maços da mesma forma como trabalhava com afinco em suas obras. Mas, aos olhos do povo, a vida de Nelson parecia fantástica, obras em ascensão e o teatro na época era muito mais apreciado do que hoje é.
A primeira obra de Nelson Rodrigues, por exemplo, A mulher sem Pecado, recebeu elogios de um dos grandes poetas brasileiros como Manuel Bandeira, mesmo sendo pouco aceita pelo público. No entanto, o gênio era pouco compreendido. E esse foi seu primeiro momento de fracasso. Jornalista por muitos anos, Nelson despertou uma paixão quase que aturdida pela dramaturgia, para ele era como se se libertasse das amarras que o impediam de expressão seus mais diferentes lados. Foi por isso que, mesmo com a baixa aceitação de sua primeira obra, ele não se deixou carregar pela maré e continuou seguindo por esse caminho. E aqui ele nos presenteia com a que é considerada a sua mais importante obra, a peça: Vestido de Noiva.
Vestido de Noiva chegou às mãos do futuro diretor, o polonês Zbigniew Ziembinski que, ao lê-la expressou as seguintes palavras quanto a sua impressão da obra: “Não conheço nada no teatro mundial que se pareça com isso”. Ziembinski foi o responsável por dirigir a peça Vestido de Noiva. E, na época, a obra-prima de Nelson fora vista por mais 2 mil pessoas que, ao final da peça, fizeram ecoar o som do silencio no teatro. Silencio esse que foi quebrado logo após os atores subirem ao palco e, em seguida, a plateia gritar pelo autor da peça. Porém, a maldita úlcera impedira Nelson de comemorar seu feito e receber os aplausos da plateia, atacando-o num dos momentos mais importantes de sua vida. Quando Zbigniew Ziembinski sem empenhava em algo, era notável a sua dedicação para que o resultados fossem além das expetativas. Os atores eram orientados a ensaiar de forma excessiva, assim como os demais elementos que componham-na deveriam ser minuciosamente analisados. A produção dessa peça foi uma verdadeira façanha. Outras obras mais vieram nos anos que seguiram e eram elaboradas pelo escritor sob a mesma linha de pensamento louco e com características machistas, racistas e depravadas de Nelson, como alguns tachavam suas obras, tais como: Senhora dos Afogados, Dorotéia, Valsa nº 6, Perdoa-me por me traíres, entre outras. Porém, ao que se mostrou, o sucesso de Vestido de Noiva seria o seu fantasma, uma vez que o escritor nunca mais faria algo que teria e tem tanto sucesso como esse. O fato é que Nelson Rodrigues teve a coragem de levar seus pensamentos para o mundo e levar seu mundo para o povo, sem medo de ser criticado e, com isso, colaborou, e muito, para o teatro brasileiro, assim como para a dramaturgia. A originalidade de suas obras foi um dos fatores que o conduziu até onde esteve por muitos anos. O “Anjo Pornográfico”, como o mesmo se intitulava (até mesmo tendo esse título rendido um romance escrito por Ruy Castro sobre o dramaturgo), era e é realmente um grande mistério para muitos. Poucos são os que tem a coragem que Nelson teve para enfrentar o mundo e apresentar coisas fora dos padrões, ainda mais nos dias atuais, onde todos parecem ter a mesma base para tudo, inclusive no que tange a dramaturgia. |
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